Espaços que Cuidam: A Importância da Gerontoarquitetura no apoio a pessoas idosas acumuladoras

Você já reparou como, em algumas casas, tudo parece ter uma história? Aquele cantinho cheio de objetos acumulados, que aos olhos de uns pode parecer bagunça, mas para quem mora ali carrega memórias, afeto e até um certo conforto. Agora, imagine quando esse apego aos objetos ou o descuido com o lar e a própria aparência passam do ponto e começam a afetar a qualidade de vida de alguém, especialmente de uma pessoa idosa.

Isso é mais comum do que pensamos e pode estar relacionado a questões como a Síndrome de Diógenes ou o Transtorno de Acumulação. Não estamos falando apenas de “gostar de guardar coisas”, mas de situações que podem trazer muitos desafios para quem vive e para quem convive. Como arquitetos e apaixonados por transformar espaços, acreditamos que o ambiente tem um papel fundamental na qualidade de vida – mesmo (e principalmente) em casos tão delicados como esses.

Vamos explorar como o design de interiores e a arquitetura podem ajudar a criar espaços mais funcionais, acolhedores e seguros para quem enfrenta esses desafios. Afinal, todos merecemos um lar que inspire cuidado e bem-estar!

Antes um pequeno resumo do que é a Síndrome de Diógenes e o Transtorno de Acumulação, lembrando que são informações apenas para dar uma ideia e casos específicos devem ser tratados por profissionais qualificados da área da saúde. 

A Síndrome de Diógenes (SD) e o Transtorno de Acumulação (TA) são condições distintas que frequentemente afetam idosos, embora compartilhem algumas características, como o acúmulo excessivo de objetos. Entender essas diferenças, e como a gerontoarquitetura pode contribuir para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas, é essencial para um cuidado mais eficaz e humanizado.

Diferenças entre Síndrome de Diógenes e Transtorno de Acumulação

Síndrome de Diógenes (SD): A SD é um distúrbio complexo que inclui:

• Auto-negligência extrema: Os indivíduos muitas vezes descuidam da própria higiene e saúde.
• Isolamento social: Afasta-se de familiares e amigos, muitas vezes rejeitando ajuda.
• Acúmulo compulsivo: Junto ao desleixo com a organização da casa, cria-se um ambiente insalubre.
• Falta de reconhecimento do problema: Muitos pacientes não enxergam a gravidade da sua situação.

Transtorno de Acumulação (TA): O TA é um transtorno emocional caracterizado por:

• Dificuldade em descartar objetos: Mesmo itens sem utilidade ou valor são mantidos por medo de perda ou necessidade futura.
• Organização precária: Ao contrário de colecionadores, que organizam seus itens, quem tem TA cria um ambiente desordenado.
• Impacto na vida cotidiana: O acúmulo excessivo pode dificultar o uso de espaços importantes da casa e prejudicar relações pessoais.
• Maior grau de percepção: Alguns indivíduos com TA têm consciência de sua condição, mas ainda assim enfrentam dificuldades para mudar.

Repercussões em Pessoas Idosas

Essas condições têm impactos profundos na saúde e bem-estar dos idosos, incluindo: 

• Problemas de saúde física: Ambientes insalubres podem levar a infecções, quedas, desnutrição e outras doenças.
• Complicações emocionais: Sentimentos de solidão, vergonha e ansiedade são comuns.
• Impacto na independência: Espaços desordenados ou inseguros dificultam atividades diárias e aumentam a dependência de cuidadores.
• Barreiras ao tratamento: O isolamento social e a negação do problema dificultam a intervenção precoce e o acompanhamento.

Como a Gerontoarquitetura Pode Ajudar

A gerontoarquitetura é uma abordagem que alia arquitetura e geriatria para criar espaços seguros e confortáveis para idosos. Em casos de SD e TA, ela desempenha um papel fundamental, como alguns exemplos mostrados a seguir:

Ambientes Fáceis de Organizar:

• Prateleiras abertas e armários com divisórias claras ajudam na organização de objetos acumulados.
• Espaços projetados para facilitar a separação de itens essenciais e descartáveis podem reduzir o acúmulo.

Espaços Seguros:

• Pisos antiderrapantes e sem desníveis previnem quedas.

• Adequar os cômodos para evitar o bloqueio de saídas em caso de emergências é essencial, principalmente em ambientes com acúmulo excessivo.

Apoio À Convivência Social: Criar áreas de convívio convidativas dentro de casa pode incentivar a interação com amigos e familiares já que ambientes que acolham visitas podem ajudar a reduzir o isolamento social.

Facilidade de Limpeza e Manutenção: Materiais de superfície laváveis e design que minimize a acumulação de sujeira tornam o cuidado com a casa mais simples.

Estimulação da Autonomia: Espaços ergonômicos, com tudo ao alcance, incentivam a independência e reduzem a dependência de terceiros.

Uso de Tecnologia: Sistemas de monitoramento e assistentes digitais podem ajudar a lembrar tarefas, como organização e limpeza. E dispositivos de alerta podem ser úteis em casos de emergências relacionadas ao ambiente acumulado.

Em suma, tanto a Síndrome de Diógenes como o Transtorno de Acumulação exigem uma abordagem interdisciplinar para melhorar a qualidade de vida dos idosos. A gerontoarquitetura pode oferecer soluções práticas e adaptáveis, tornando o ambiente doméstico mais funcional, seguro e acolhedor. Assim, é possível ajudar a promover a saúde física e emocional dessas pessoas, facilitando sua integração social e o manejo das condições de saúde.

Leia também: 

Nossa relação com os objetos. Acumular demais...