Mulheres, casas e cidades - a invisibilidade feminina na arquitetura

Livro leitura

Para todos nós que gostamos de arquitetura Mulheres, Casas e Cidades, da arquiteta e urbanista argentina Zaida Muxí Martínez, é um livro que vale a pena conhecer. Nele a autora mergulha de forma crítica e acessível no papel que as mulheres desempenharam e desempenham na construção dos espaços em que vivemos, tanto em casa quanto nas cidades. Ela não apenas revela a invisibilidade histórica das mulheres no campo da arquitetura, mas também nos convida a repensar o desenho dos nossos espaços de um ponto de vista feminino.



Zaida não tem medo de tocar em uma questão incômoda: por que tantas mulheres arquitetas foram apagadas da história? Muitas profissionais talentosas que contribuíram para projetos incríveis acabaram ofuscadas por seus colegas homens ou tiveram suas obras injustamente atribuídas a eles. Isso aconteceu de forma tão frequente que chega a ser chocante. O livro nos faz refletir sobre o quanto perdemos em termos de diversidade de ideias e soluções arquitetônicas ao negligenciar essas vozes.

Ela traz exemplos concretos, como o caso de Eileen Gray, que desenhou a famosa casa E-1027. Embora essa obra seja um marco do modernismo, por muito tempo foi atribuída a Le Corbusier. Injustiças como essa reforçam o quanto é urgente resgatar o legado das mulheres que moldaram, e ainda moldam, a arquitetura.

Um dos pontos mais interessantes abordados por Zaida Muxí é a maneira como as casas, e os espaços dentro delas, refletem e reforçam os papéis de gênero. Ela argumenta que, historicamente, a casa foi desenhada para manter as mulheres confinadas a um espaço de trabalho invisível e não remunerado, enquanto os homens se beneficiavam desse espaço como lugar de descanso. Faz sentido, não é? Afinal, quantas vezes não pensamos na casa como o "refúgio" de uma família, mas esquecemos o trabalho invisível de quem mantém esse refúgio em ordem? Esse olhar crítico nos faz questionar como os espaços domésticos ainda perpetuam essas desigualdades.

Livro


Outro tema fascinante que o livro Mulheres, Casas e Cidades explora é a cidade vista através da experiência das mulheres. Quando pensamos em como os espaços urbanos são projetados, percebemos que muitas vezes eles não levam em consideração as necessidades de quem, por exemplo, se desloca com crianças, ou precisa de serviços básicos mais próximos de casa. Zaida Muxí propõe que a experiência feminina tem o potencial de nos guiar rumo a cidades mais inclusivas e sustentáveis. Ela fala de proximidade, acessibilidade e da atenção aos pequenos detalhes que fazem toda a diferença na nossa rotina — algo que, frequentemente, fica de fora dos grandes projetos urbanos.

O livro presta uma linda homenagem às mulheres que, ao longo da história, romperam barreiras e deixaram sua marca no urbanismo e na arquitetura. Nomes como Margarete Schütte-Lihotzky, a mente por trás da cozinha modular, ou Jane Jacobs, uma referência no planejamento urbano, são apenas alguns dos exemplos que a autora recupera para o nosso reconhecimento. Essas mulheres desafiaram as normas de gênero e contribuíram de maneiras que até hoje inspiram novas gerações de arquitetas.

Seja você um amante da arquitetura, um estudante ou apenas alguém interessado em entender melhor as dinâmicas sociais que moldam o espaço onde vivemos, Mulheres, Casas e Cidades é uma leitura essencial. A escrita clara e envolvente de Zaida Muxí nos convida a refletir sobre a história do urbanismo e da arquitetura, ao mesmo tempo em que nos inspira a imaginar cidades e casas que, de fato, sirvam a todos.

O livro vai além da denúncia da exclusão das mulheres: ele abre caminho para repensarmos o futuro. Porque, ao trazer essas histórias à tona, Zaida Muxí não está só resgatando o passado, ela está também nos apontando para a construção de espaços mais justos e equilibrados. Afinal, a arquitetura não é apenas sobre paredes e edifícios; é sobre as pessoas que vivem, trabalham e interagem dentro deles. E fica a indagação da autora (e de nós, arquitetas):
"Como se constroem os valores da arquitetura? Quem estabeleceu os parâmetros do que é Arte com maiúscula e do que não é?"

Mulheres, Casas e Cidades - veja AQUI



Zaida Muxi


Comentários

  1. Eu sinto o machismo na pele. A minha filha é militar, engenheira formada pelo IME. Ela enfrenta exatamente esse problema. Mas é requisitada, por ser muito inteligente. Mas não recebe nenhum reconhecimento.

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