Sempre fui fascinada pela engenhosidade da natureza. As formas, as cores, como tudo funciona em harmonia. E com a engenhosidade de vários animais em construir seus abrigos. Assim como nós, humanos, muitas espécies parecem dominar com maestria a intricada arte de arquitetar ninhos e esconderijos que sirvam de morada, abrigo de filhotes e chamariz para a procriação. Quando descobri que um dos arquitetos que mais admiro, Juhani Pallasmaa, também era fascinado pelos trabalhos arquitetônicos de outros animais e que tinha não só feito uma exposição em 1995 sobre o tema, mas como tinha escrito um livro sobre isso, mais cresceu minha admiração. É sobre a leitura deste livro que vou escrever aqui. Livro atualizado, com novo texto de apresentação falando das mais recentes descobertas do tema.
Quando representamos animais construtores, geralmente são mostrados em um imaginário humano. Nos desenhos animados, eles moram em casas feitas à nossa maneira, reproduzindo modos de vida que nos são familiares. É simpático mas está longe da realidade em um mundo onde os animais tem desenvolvido técnicas surpreendentemente inteligentes em termos utilitários, ecológicos e até estéticos.
Muitas de nossas modernas tecnologias construtivas tem se inspirado na natureza. No livro, Juhani Pallasmaa cita a biônica e a
biomimética como "potenciais modelos para soluções humanas". A
biofilia também é apontada como um exemplo de como os sistemas de equilíbrio nos sistemas naturais podem nos ensinar a construir com mais harmonia.
Da inventividade e maestria do João de Barro ao construir seu ninho, ou suas cidades, à beleza milimétrica dos favos das abelhas, o autor nos aponta em vários capítulos sobre as maravilhas da arquitetura animal. Mostrando que não só são métodos construtivos elaborados e funcionais, como são eficientes para proteger do ambiente físico e dos predadores. Servem para obtenção de alimentos e comunicação. E pasmem! Até no campo estético. Obviamente não como entendemos a decoração de ambientes, mas já há estudos levantando a possibilidade de uma teoria estética com base biológica (Semir Zeki). Muitas dessas técnicas estéticas, uso de cores, formas, enfeites seriam maneiras de atrair parceiras/os para a cópula e a perpetuação das espécies. Lembraram da cauda o pavão?
Os alvéolos construídos pelas abelhas é extremamente eficaz para o seu fim, armazenar mel. E a espessura de suas paredes tem uma precisão muito maior que a de nossas construções. O fio de uma teia da aranha tem uma combinação de resistência e elasticidade muito maior que qualquer metal criado pelo ser humano. No livro é citada um "artigo da Science News que uma teia de aranha com uma espessura de fio e um tamanho de malhas similares aos de uma rede de pesca conseguiria parar um avião de passageiros em pleno voo".
Há vários outros exemplos de funções e métodos construtivos de inúmeras espécies. E o autor termina com considerações econômicas e ecológicas mostrando como esses animais arquitetos não apenas tem construído de maneira eficaz para a sua sobrevivência, mas que são muito eficientes em manter um equilíbrio dinâmico com o meio ambiente, reutilizando e não desperdiçando recursos nem causando poluição. E deixa um alerta de que a arquitetura humana deva ter humildade de olhar para estes "colegas" construtores e aprender com eles de como evoluir com refinamento e equilíbrio.
Juhani Pallasma: Arquiteto finlandês é um dos grandes pensadores contemporâneos da arquitetura. Foi diretor do Museu de Arquitetura da Finlândia e lecionou na Universidade Politécnica de Helsinque, além de ter sido professor convidado em escolas de arquitetura por todo o mundo. Autor de livros e artigos – além de uma série de exposições, com a que deu origem a este livro –, com uma visão cultural, filosófica e multidisciplinar, tornou-se autor obrigatório para os interessados na teoria da arquitetura e em temas afins.
Ilustrações: W. F. Keyl e E. Smith
Tradução: Maria Luisa de Abreu Lima Paz
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