As lembranças que tenho de minha mãe tem muita ligação com a cozinha. Nossas cozinhas da infância. Algumas maiores, outras nem tanto. Todas muito práticas e com uma imensa mesa onde minha mãe fazia especialmente os biscoitos alemães. Lembro deles porque ela deixava que eu ajudasse com as forminhas e com a colocação de confeitos sobre. Deixar que a gente miúda ajudasse era um acontecimento especial na minha mãe virginiana. Prática, ordeira e rápida, ela não costumava nos dar muito espaço para criações culinárias.
Fazia sua comida sem alardes, lembro que quando terminava de cozinhar, a cozinha estava limpa. Ela tomava um banho, se perfumava e esperava meu pai chegar para comer o arroz enformado, o bife passado na manteiga e as batatinhas fritas. Por cima, aproveitando a frigideira, as cebolas feitas na hora, sempre com um toque de açúcar.
Quando era pequena, morávamos em casas. Sempre tinha uma horta onde ela plantava verduras, legumes, moranguinhos e amor perfeito. Tá, acho que o amor perfeito era nos canteiros. Mas os moranguinhos...pura delícia, de um sabor que nunca se encontra nos da feira. O mais peculiar é que ela sempre detestou verduras, mas nos acostumou desde pequenos a gostar delas. Sou daquelas que come brócolis crus. Mas ela curtia quiabos. Nunca aprendi a gostar deles...
Os pés direitos eram muito altos. Não tínhamos fogão a lenha. Meu pai era traumatizado com eles. Quando pequeno, olhava sua mãe, minha avó, tendo que limpa-los e sempre contava que uma das primeiras coisas que comprou com seus primeiros salários foi um reluzente fogão a gás! Aliás um desses me rendeu um trauma com panelas de pressão. Eram os anos 60 e mal minha mãe se afastou do fogão, a panela explodiu com o feijão dentro. Nunca esqueci a cena! Uma parede de uns três metros de altura forrada de preto, um barulho imenso e um susto espetacular.
Na segunda casa de minha infância, a cozinha já não era tão grande, mas havia uma despensa que dava para um jardim interno. Pedido especial de minha mãe. Era mágica. Uma mesa imensa de madeira ladeada por armários e uma janela para o verde. Não sei como não me tornei uma cozinheira por paixão. O cenário era altamente convidativo.
No primeiro apartamento onde moramos, a cozinha era um corredor, colorida. Já não tão iluminada mas com um forno de onde saiam delícias. Lembro especialmente de um pão recheado com guisado altamente temperado com especiarias. Depois colocado no forno, com queijo ralado e degustado na janta.
Era uma comida prática, como ela. Sempre uma sobremesa que podia ser ambrosia bem clarinha, doce de abobora ou figo, ou ainda a predileta de meu pai, Montanha Russa.
As cozinhas de minha infância tinham gosto de amor e aconchego. Não eram lugar de estar, como muitas. Eram local de trabalho e organização. Mas tudo isso com muitas pitadas de carinho que as faziam inesquecíveis.
E tu? Qual lembrança tem das casas da tua infância?
Imagens ilustrativas Google e Pinterest
Sua estética na escrita sempre nos presenteia com traços fortes de bem viver. Muito obrigado Elenara. Mais um texto fantástico.
ResponderExcluirObrigada!! Beijos
ExcluirQue delícia esse blog com sabor de memória afetiva! Tomara que tua clientela busque esse resgate, e vc consiga reproduzir esse aconchego de casa para morar e curtir nos teus projetos; pois a maioria que vemos por aí é casa só pra foto de casa de revista e não pra curtir e morar! Parabéns Elenara,pela pegada de afeto!
ResponderExcluirQue lindo ler essas palavras !!! Amei! Obrigada! Grande abraço
ExcluirNossa que linda história amei...parabéns pelo texto
ResponderExcluirAdorei saber que gostou! Obrigada! Abraços
ExcluirNossa que linda história, amei tudo, parabéns pelo texto
ResponderExcluirAmei o texto,mesmo pq,minha cozinha remete aos tempos dos avós,com os armários rústicos e coloridos.Curto muito,e os familiares e amigos qdo chegam ,dizem se sentir acarinhado pelo estilo.abr
ResponderExcluirObrigada! Fiquei super curiosa para ver tua cozinha, deve ser tão linda!!! Abraços
Excluir