O medo e a delícia de ter ideias próprias
"No fundo de todo ser humano existe um poeta, um pintor, um bailarino, um artista, alguém que brinca de modelagem com a realidade. Que está aí para isso mesmo." (Fernanda Lopes de Almeida)
Por coincidência recebi um comentário no blog, na postagem onde cito 10 motivos para não fazer arquitetura, sobre a dificuldade de um estudante com o seu processo criativo. Tomo a liberdade de repetir uma parte de seu comentário abaixo.
"... meu processo criativo é muito devagar, sinto que definitivamente não tenho um bom gosto, e estou começando a ficar muito mal com isso, paro em frente o computador e travo, sei utilizar muito bem todas as ferramentas, mas contanto que a ideia não seja minha, tenho muita timidez com tudo, para fazer e mostrar para os outros, me sinto totalmente perdido, não sei o que devo buscar, gosto muito de modelar e desenhar, mas se tiver um espaço em branco, não sei por onde começar, é como se eu tivesse todas as peças do quebra cabeça mas não saber onde cada uma se encaixa com a outra...."
A criatividade, principalmente em uma profissão como a Arquitetura, é uma ferramenta de trabalho. Alguns acreditam que devam dar respostas espetaculosas para todo problema. Nem sempre. Muitas vezes já temos a capacidade técnica de elaborar as melhoras soluções ao nosso alcance, mas o medo da crítica, externa ou interna, acabam nos tolhendo. Ou ainda os velhos hábitos de pensar sempre dentro da caixa e quase nunca ousar o "think out of box".
Então minha resposta ao estudante que tanto se esforça na parte técnica, consegue o domínio de vários campos na profissão que o processo criativo também é um processo que se desenvolve. É preciso ter a mente aberta, deixar fluir e aprimorar o repertório. Veja aqui uma postagem onde falo sobre 10 maneiras de expandir o repertório em arquitetura.
Criar não é apenas aquele processo divino em que uma centelha desce sobre alguém. É trabalho. Muito trabalho. É tentativa e acerto. É pesquisa, inspiração, domínio da técnica e trabalho conjunto. É riscar muito. É apostar em uma solução para depois perceber que existe outra melhor. Mas que só foi encontrada porque se trilhou um caminho. Não existe milagre. Criar é suor.
E há que se entender que arquitetos passam pelo processo crítico. Não existe boa arquitetura sem questionamento. Interno. E externo. Deixar que outros olhos vejam a nossa proposta, a qualifica para novos desafios. E lembre que projetar é um contínuo processo.
Então não para nunca? Chega uma hora em que se opta por uma solução. A melhor que podemos apresentar naquele momento. É um processo arduo? Sim. Mas também belo e gratificante.
Trabalhar em algo que é um misto de arte e técnica nem sempre é fácil. Exige de nós conhecimento, repertório, sensibilidade, distanciamento de nós o suficiente para entender o outro, o cliente, as vezes tão diferente da gente. Mas o desafio é justamente conseguir vestir o sonho de outro como se nosso fosse e transforma-lo em concreta realidade. E depois de feito, ter a suficiente coragem de dar adeus a um filho para vê-lo crescer em mãos alheias. Sim, todo projeto é um parto. Toda entrega é uma separação. Todo arquiteto é meio artista. Mas também é realizador. (Elenara Stein Leitão)
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