A arte de fotografar prédios e cidades com alma
Certa feita uma amiga me fez ver algo que me incomodava nas fotos de arquitetura. Disse que pareciam quase sempre retratar mundos desertos. Volumes, formas e cores em sua imponência, mas sem a presença dos seres que as habitam, que por elas transitam, que as vivam. E a real arquitetura, para mim, é feita de todos os sentidos. O arquiteto finlandês Juhani Pallasmaa expressou isso muito bem, quando disse aos seus alunos:
"Não vou lhes ensinar o que é a arquitetura - tentarei ensinar a cada um de vocês quem vocês são. O primeiro requisito para o professor é inflamar a paixão do estudante pela arquitetura e lhe permitir vê-la junto com a vida...mais importante para um arquiteto que o talento de fantasiar espaços, é o dom de imaginar situações humanas".
O dom de imaginar situações humanas.
Me encanta quando vejo alguém que consegue captar a alma dos prédios. Não sendo arquiteta de formação, mas jornalista, Talita Ribeiro, consegue revelar em suas fotos, instantâneos de cidades e prédios que nos fazem ter, sobre eles, novos olhares. Eu, que nunca vibrei com a metrópole Nova Iorque, a conheci como uma cidade acolhedora viajando por seu cotidiano nos stories da Talita.
Uma boa foto é aquela que abre sua imaginação, que traz emoção. Martine Franck
Para ilustrar essa postagem fiz um garimpo nas stories do seu instagram. Duas sensações: primeira que as fotos de arquitetura que mais me tocaram não estão lá, e logo explico o porquê. Segunda, que revivi muitos dos momentos de descoberta de locais, conhecidos e desconhecidos que vi pelos olhos sensíveis da jornalista, especializada em viagens. Que hoje percorre novas rotas, também fascinantes. Para quem ficou curioso, fica a dica: sigam.
Você não fotografa com sua máquina. Você fotografa com toda sua cultura. Sebastião Salgado
Vou explicar o que me fascina nas fotos e olhar da Talita. Ela consegue garimpar a joia que se esconde no comum. As suas fotos de arquitetura não são apenas sobre prédios consagrados ou interessantes arquitetonicamente. Ela capta aquele ângulo que a maioria das pessoas passa sem ver. Ela vê beleza no que parece passageiro. Ela vê magia no que parece apenas construção. Como boa taurina, ela faz da casa e dos espaços um pouso seu, fazendo de paragens, as suas cidades particulares que, muitas vezes, são tão diferentes das de catálogo de turismo. Ela mesmo brinca que as cidades deviam contrata-la para ser embaixadora. Deviam mesmo. Ela foge do padrão comum de oferecer o mesmo de sempre.
A câmera não faz diferença nenhuma. Todas elas gravam o que você está vendo. Mas você precisa ver. Ernst Haas
"Como podem os prédios despertar tantos sentimentos em nós? Como podem ângulos retos ecoarem feito ondas dentro do corpo, na mente, no meio? É sempre um prazer encontrar construções que não apenas acolhem, mas também conversam" Talita Ribeiro
Esta frase é muito significativa do resultado que encontro em suas fotos. Acho particularmente lindo ler isso em alguém que não é arquiteto. Gostaria muito que meus projetos, os espaços que arquiteto, chegassem assim às pessoas, conversando com elas, mobilizando sensações e sentimentos de pertencimento, de estranheza, de acolhimento, de vida e pulsão!
Numa das últimas viagens, que acompanhei no stories, a foto abaixo me tocou sobremaneira. Em um único clique conseguimos notar a grandiosidade da estrutura e a singeleza da escala humana. Um museu que guarda a história (extensa) dos homens (minúsculos) mas que juntos fazem uma imensidão.
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