Arquitetando o nosso dia e relembrando Niemeyer
Arquitetura é uma voragem que seduz quem nela mergulha em seus mistérios e criações. Mais que uma profissão, para muitos, é mergulho em algo tão diferente que poderia se chamar de paixão. Talvez pensamentos de gente que cresceu em outras eras, onde a poesia ainda se misturava ao afazer arquitetônico. Não importa, sejamos mais comerciantes ou mais poetas, o arquitetar espaços para as pessoas e sociedades é um exercício particular muito bonito. E enriquecedor.
E falar de arquitetura no Brasil em citar Oscar Niemeyer é meio impossível. Seja para falar a favor ou contra. O dia de seu aniversário fica marcado como o dia do Arquiteto e Urbanista.
Da estudante de 17 anos que andava pelos corredores do minhocão, como eram chamados os prédios curvos da UnB à arquiteta que ora vos escreve, em plena pandemia, muitas transformações.
Vivia arquitetura em suas belezas e contradições na cidade projetada "por arquitetos para arquitetos" como me definiu um psicólogo para um trabalho de faculdade. Disse que Brasília era para ser vista de avião, como se fosse uma grande maquete. Talvez definisse bem a visão do profissional que vê além, de cima (sem empáfia nessa definição) apenas a constatação de quem tem que recolher todas as informações, triturar, gestar e parir uma solução que se sustente por si.
Foi na Brasília de Niemeyer e Lucio Costa que aprendi sobre sensações em espaços. A Catedral é mais que uma forma diferenciada. O entrar pelo túnel escuro e chegar a um local cheio de luz nos mostra a essência das crenças. Interessante que muitos desses espaços sejam criados não por crentes, mas por quem entende de como a luz, os sentidos e as emoções funcionam.
Foi na Brasília, ainda sob o jugo de uma ditadura, que aprendi que junto à beleza dos palácios, existia um cinturão de pobreza para servir à população que vivia no plano piloto. Não precisei ler livros de sociologia nem teorias de exclusão. Bastou abrir os olhos. Era um retrato da sociedade brasileira que, na minha cidade de origem, eram mais sutis. Até hoje lembro da solução aventada para esconder o núcleo bandeirante, a cidade satélite, habitação dos que construíram a cidade, quando da possibilidade de visita de um presidente americano: colocar outdoors na frente. O que não se vê, não se sente. E inexiste.
Abaixo uma indicação de leitura de um dos melhores livros sobre Brasília que já li: A Cidade Modernista de James Holston.
Então, fazendo um balanço dessas décadas de profissão, há altos e baixos, há muito aprendizado e ainda resta um tanto de paixão. Não é pouco.
Imagens do acervo pessoal: carteira de estudante na UnB, Interior da catedral de Brasília e livro sobre Brasília
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