Livraria de sonho cria laços entre os livros e os seres humanos

Iniciei o ano precisando cuidar de mim. E isso significava sincronizar mente e corpo em um esforço de saúde. Uma na verdade não existe sem a outra. E entre caminhadas e Pilates, entre alimentação saudável e uma taça de vinho (duvidam, olhem as pesquisas para confirmar), senti muito premente a necessidade de trabalhar o foco, acalmar a cabeça. Meditar.

Olha que não é brincadeira a gente sobreviver nesse mundo cheio de informações, cheio de obrigações. Cheio de deverias onde a ação e resolução dependem cada dia mais de nós para a sobrevivência. E enquanto não mergulho em um OMMMM de prática meditativa, mergulho naquilo que me faz viajar e acalma a mente. Para mim quase uma meditação: ler.

O que dizer quando entre uma pedalada e outra (sou dessas que lê na bike de exercício) um livro me lembra que nenhuma ilha é desabitada porque hospeda sátiros, górgonas e sereias...e que essas últimas, algumas delas pelo menos, tem a tarefa de "chamar o tempo", criando nos seus locais "aquele frêmito que dispõe a mente a receber impressões quiméricas: o silêncio que cria". (Domenico De Masi - Alfabeto da sociedade desorientada).

Esse frêmito, esse silêncio que cria, esse chamamento do tempo, esse canto de sereia sinto ao ver um espaço como essa livraria chinesa, a Zhongshuge.

 
Primeiro a imagem. A arquitetura é feita de sentidos. E a visão talvez seja nosso contato imediato. As imagens de uma espiral, um espaço que se contorce em torno dos livros, que aguça a mente da leitora de menina, de mulher, de curiosa...
Imagino que o paraíso é uma espécie de livraria. Jorge Luis Borges

Depois vou sorvendo as palavras que descrevem o projeto como se ele fosse também um livro. O que se fala de um espaço é tão importante quanto o que se vê. O que norteou a concepção, o que levou àquele canto de sereia que desperta a vontade de saber mais.

E o que leio é pura poesia. Um espaço que se cria em torno dos arcos e formas sinuosas, qual um rio que corre pelas margens e com elas brincam de namoros e descobertas. O local e a cultura aqui reinterpretados criando "laços entre os livros e os seres humanos" 
Em tudo é como se estivéssemos em outra terra, em um paraíso que nos conduz ao conhecimento. E tudo isso usando elementos formais que compõem uma unidade lógica. E poética. 
 As crianças também são contempladas com um espaço lúdico e colorido, com pontos que lembram a noite e a magia que nos acomete quando, pequenos, nos contam histórias e somos levados a novos e encantadores mundos.


Projeto : X + Living
Fotos: Shao Feng


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