Ideias para árvores de Natal
Nosso Natal começava no dia 6 de dezembro. Era hábito e costume naquela casa manter a cultura alemã que veio com a minha mãe. Ela, filha de pai alemão nato, e mãe de origem portuguesa, costumava fazer árvores imensas e deliciosos biscoitos de natal.
A família de meu pai, de origem portuguesa (das grossas sobrancelhas e olhos ternos) e italiana (do Bello com dois elles, do rosto vermelho e do falar com as mãos) nem tinha tempo de ter esses luxos, já que meu avô tinha morrido aos 36 anos em uma revolução e deixado minha avó com quatro filhos para criar. Presentes? Coisa que meu pai desconhecia, embora rezasse para que viessem naquelas noites de dezembro ou em 6 de janeiro, dia de Reis. Acho que ainda não conhecia a música que eu cantava em pequena:
Eu pensei que todo mundofosse filho de papai NoelBem assim felicidade eu penseique fosse uma brincadeira de papel
Mal sabia eu. naquela época, que Natal não era assim para todos. Não aquela festa de filha caçula de família classe média que se estabilizava.
Uma árvore imensa, um pinheiro cortado sem dó nem piedade. Devia ter quase três metros, sem imaginação infantil. Nossa sala de casa alugada tinha quase isso de pé direito! E ele majestoso, mal sabia que seria por poucos dias, coisa de um mês. Que no começo de janeiro ia ser desmanchado, despido de suas belezas e enfeites e jogado já meio morto em um canto qualquer para que o lixeiro o levasse. Nunca pensei o que faziam com ele.
Só sei que enquanto reinava ali na nossa sala, era soberano. Ficava sobre caixas com pedras que o sustentavam, naquelas primeiras aulas práticas de estruturas efêmeras. Era enfeitado com bolas, com velas, com algodão que simulava a neve da terra de meu avô e que só fui conhecer lá na sua Alemanha. E cujo brilho no olhar que me despertou em sua magia, guardo até hoje na alma. Os alemães que acharam uma massada aquela nevasca em plena primavera não podiam entender o sorriso de criança que aquela brasileira tinha nos lábios. E que talvez tenha começado em noites quentes de dezembros tropicais.
Mas o pinheiro gigante que a gente teimava em chamar de pinheirinho (sem conotação pejorativa, era puro carinho) não reinava sozinho. Não! Ele fazia par com o presépio! Tão bonito! Cada ano diferente. Tinha areia, tinha água, tinha musgo! Tinha vida porque a cada dia os Reis Magos (Baltasar, Melchior e aquele outro, como era o nome mesmo? -Enquanto escrevo o sinal do wifi teima em cair e tenho que me valer da minha memória - ela teima em me gritar Joaquim. Mas não pode, um português de rei em Belém??? Ah, Google, como tornas nossa memória preguiçosa...) caminhavam em direção ao menino na gruta.
No dia 24, na véspera do Natal, a excitação daquela menina loira chegava ao auge. Fazia muito calor! Me vestiam com vestidos novos, meu pai me chamava para um estratégico passeio de carro - quem sabe um "Chica Bom" ou um picolé de abacaxi? E assim eu sempre perdia a chegada do Papai Noel. Uma vez ele veio nos visitar. Mas não podia ser aquele velhinho simpático dos anúncios. Aquele era magro, usava uma máscara e tinha uma vara de marmelo para assustar as crianças. Chorei muito. E não quis ver. Foi bom, ele nunca mais apareceu lá em casa.
Presentes. Muitos! Além de brinquedos, iam para a árvore todo o enxoval de verão. Fossem roupas, meias ou calcinhas. Não importava. Valia a quantidade. Eu, menorzinha, ganhava sempre mais que todos. Isso me enchia secretamente de vergonha.
Depois que cresci os Natais foram se simplificando. Apareceram os amigos secretos. A magia foi se dissolvendo. Até que eu me tornei Papai Noel. E nunca mais consegui recuperar aquela agitação dos tempos de outrora.
Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
com certeza já morreu
ou então felicidade é brinquedo que não tem.
E o Joaquim era na verdade Gaspar (obrigada Google!)
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