Cercados de grades

Grades. Cada vez mais cercados, cada vez mais prisioneiros. Cidades se transformam em fortalezas. Pessoas se escondem, se trancam. As ruas se tornam armadilhas. Pessoas se sentem reféns.

Mas não custa sonhar com o tempo em que elas passem da proteção à mera decoração. Um dia em que as posses sejam de flores e amores. Um tempo de retomada dos espaços e das ruas. 

Grade no mobiliário
 Depois, onde é visível o jardim
Através do portão de grade dada,
Põe quantas flores são as mais risonhas,
Para que te conheçam só assim.
Onde ninguém o vir não ponhas nada.
Grades

Faze canteiros como os que outros têm,
Onde os olhares possam entrever
O teu jardim com lho vais mostrar.
Mas onde és teu, e nunca o vê ninguém,
Deixa as flores que vêm do chão crescer
E deixa as ervas naturais medrar.
Grade
 Faze de ti um duplo ser guardado;
E que ninguém, que veja e fite, possa
Saber mais que um jardim de quem tu és -
Um jardim ostensivo e reservado,
Por trás do qual a flor nativa roça
A erva tão pobre que nem tu a vês...

 Grades
  Cerca de Grandes Muros Quem te Sonhas - Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'
Cercados de grades. Cansados da luta. Horas em que mais do que nunca, a poesia se faz urgente. Dentro de nós.


Fotos: Pinterest


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