S.O.S Monumento - uma saga contra as pichações
SOS Monumento |
Antes de mais nada cabe esclarecer que não trabalho com patrimônio histórico e o que conheço sobre essa área vem da época da faculdade quando auxiliei colegas que acabaram se especializando nessa área. Mas sou uma moradora da cidade (Porto Alegre) , sou arquiteta e por isso mesmo tenho uma visão um pouco mais acostumada a trabalhar com espaços e arte. E digo com certeza, pessoal e profissional, que a leitura desse livro, que nos relata a experiência de um trabalho de conservação e conscientização de monumentos públicos, é muito interessante. E mais, indispensável para que entendamos melhor o porque nosso ambiente cultural não é tratado com carinho e cuidados.
Me lembro bem da época em que os fatos relatados aconteceram. O SOS Monumento foi uma parceria entre o atelier de Alice Prati, empresas privadas e poder público para não apenas limpar, mas através dessa limpeza questionar e conscientizar a população para a importância da conservação do patrimônio da cidade.
Vários monumentos da cidade de Porto Alegre foram higienizados e isso provocou manchetes e polêmicas. Não vou entrar nessa seara, ela é descrita no livro também. O que me chama a atenção, como pesquisadora, é o relato de como as coisas se passaram, com minúcias de detalhes e informações, e como se processou uma pesquisa não formal (ou melhor dizendo não acadêmica) do que leva pessoas, ou bandos de pessoas, a picharem obras que deveriam ser consideradas seu patrimônio pessoal, sua herança cultural, sua história. Esse não academicismo faz com que a leitura seja muito mais gostosa porque através dela vivenciamos fatos reais, acontecimentos que nos fazem rir alguns, nos preocupam outros, mas todos expressão da vida real.
Os técnicos passaram noites ao lado dos monumentos, numa vigília que nos é relatada com humor e ternura e nos faz sentir o que se passa nas noites da capital, aos pés de nossos heróis... São cinco anos de trabalhos, alguns sob as luzes das manchetes e condecorações. Outros mais reclusos, como uma necessidade de um olhar mais íntimo e reflexivo.
E o lado mais importante ao meu ver. Além das limpezas, houve palestras em escolas em um trabalho de educação e aprendizado conjunto. Debates com alunos, nem sempre propensos a escutar, mas que resultaram em uma rica experiência sobre o comportamento de uma camada da população mais jovem. E há no livro uma extensa caracterização de quem são os pichadores, como se comportam e o que poderia ser feito para minimizar esse problema que tanto prejudica nossas obras urbanas.
Tudo isso é relatado numa linguagem coloquial, muito bem escrita, com paixão, com alguns extremos às vezes, mas sempre mostrando de forma clara como o trabalho se processou, que soluções trouxe como contribuição, e que mostra que algo precisa ser feito urgentemente para que a cultura não seja relegada a um plano secundário na ordem de importância das coisas urbanas.
Se as (boas) soluções apontadas vão ser implementadas ou não, não sei. Mas que a leitura desse livro contribui para o debate urbano e merece estar na biblioteca de quem se interessa por arte e cidadania, isso sim posso garantir. Mostra que nem sempre as soluções precisam ser caras e nem precisam ser feitas apenas pelo poder público. É uma obra que se expõe sem medo. Como devem ser as sagas.
Quer saber mais ? Veja AQUI
E eu vou complementar com uma frase que li num jornal local:
"Não existem pessoas irrecuperáveis. Existem métodos inadequados de tratamento"
Maria Ribeiro da Silva Tavares - Assistente social - 100 anos ainda trabalhando com apenados em Porto Alegre.
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