Telhado branco obrigatório - pontos a ponderar
1- A matriz energética (nos USA) é predominantemente baseada na queima de diesel e carvão, enquanto a nossa base é hidroelétrica, portanto aqui a redução do consumo energético não reflete na emissão de CO2 como pretende o estudo.
2- O clima é muito seco, enquanto o nosso é muito úmido. Aqui a proliferação de fungos transformaria rapidamente o branco em gradações enegrecidas, o que ao invés de diminuir a temperatura dos ambientes abaixo da cobertura, teria efeito contrário, colaborando para o aquecimento destes ambientes.
3- As edificações usam técnicas construtivas diferentes das nossas, com uso muito mais disseminado de climatização mecânica e sistemas de ar condicionado, sendo as coberturas mais naturais, como as executadas por telhas de barro, quase inexistentes, ao inverso do que acontece em São Paulo, onde são típicas estas coberturas, que pintadas, deixariam de respirar, comprometendo sua eficiência.
Mais que isso, também é preciso considerar que:
4- Não se levou em conta, nem foi elaborada nenhuma estimativa da emissão de CO2 provocada pela cadeia envolvida desde a produção da tinta, até sua aplicação e manutenção na escala pretendida, que no nosso contexto, fatalmente seria responsável por muito mais emissão de CO2, do que a medida pode ser capaz de evitar.
São Paulo |
6- Esfriar ambientes climatizados artificialmente contribui para diminuir o consumo energético no verão, porém tem efeito contrário no inverno.
7- Toda a energia solar que a medida lograsse refletir voltaria para o ambiente, o que até pode vir a contribuir para potencializar o problema, mas certamente não nos ajudaria a combatê-lo. Não foram feitos estudos acerca da reflexão que a medida provocaria no contexto desta metrópole (e suas várias ilhas de calor), já vitimada pelo efeito estufa, e com presença massiva de partículas em suspensão.
8- Há um custo social agregado à medida que também precisa ser considerado, dada a periculosidade envolvida nas tarefas de pintar e manter brancas as coberturas, sempre altas, e muitas vezes impróprias ao trânsito, por sua inclinação ou fragilidade. Este custo social se potencializa com a escassez de mão de obra qualificada.
9– As obras arquitetônicas e as edificações preservadas por seu valor histórico não foram levadas em conta, a medida nestes casos geraria agressão visual e descaracterização do nosso patrimônio histórico.
10- A medida impediria a implantação de sistemas passivos de condicionamento, ou que utilizem as superfícies das coberturas para a captação de energia solar.
11– Há divergência de temperatura e de meio ambiente para cada bairro de São Paulo. Nossa metrópole abriga várias e diferentes "ilhas de calor". A medida iguala um bairro extremamente arborizado e de casas térreas, com outro verticalizado e sem cobertura vegetal em sua área.
12- Uma tinta comum sofreria lixiviação com o tempo, e sua química seria carregada pelos dutos do sistema pluvial até os rios que cortam a cidade, provocando mais danos ambientais. O projeto de lei não exige uso de produto inerte, e mesmo que o fizesse, não há capacidade de fiscalização dos órgãos públicos para garantir este controle.
13- Vale lembrar que nossas coberturas de barro retém a água precipitada absorvendo cerca de 3,5 a 4 litros de água por m2, devolvendo paulatinamente esta umidade para o ambiente com a ação do sol, depois que a chuva cessa. Ninguém fez o cálculo, mas estes 4 litros por metro em Sampa agravariam tragicamente nosso problema com enchentes...
Esse debate serviu para mostrar que a cidade tem muito mais a ganhar com discussões democráticas e que reúna especialistas com dados locais do que em meramente importar soluções de fora em questionar. Ponto para o vereador que abriu esse espaço e se dispôs a mostrar que realmente está interessado em ajudar a melhorar a sua cidade. Ponto para os debatedores que, em alto nível, ponderaram soluções e se uniram em uma luta para também mostrar que a sustentabilidade na construção precisa de mais espaços qualificados como esse, que é necessário mais incentivos para que soluções locais possam ser implementadas e aprimoradas.
É cada coisa em São Paulo.
ResponderExcluirUm Lindo Fim de Semana!
beijinhos
Justamente, cara amiga!
ResponderExcluirO grande perigo é assumir normas e protocolos estrangeiros sem contextualizá-los, como vem sendo feito com as certificações para a construção civil feitas por aqui...
Oscar Müller
E olhe outra pesquisa comprovando o que foi defendido no debate
ResponderExcluirhttp://planetasustentavel.abril.com.br/blog/planeta-urgente/pintar-telhados-de-branco-e-solucao-duvidosa/
Abraços
Este artigo é sobre arquitetandoideias.blogspot.com marcador digno na minha opinião. É economizar para referência futura pena. É uma leitura fascinante, com muitos pontos válidos para a contemplação. Eu tenho que concordar em quase todos os pontos feitos no âmbito deste artigo.
ResponderExcluirGostaria de saber se a autora do texto mantém a opinião e também o Sr. Oscar.
ResponderExcluirOlá, anônimo! Os dados explanados no texto são fatos, permanecem válidos, minhas conclusões acerca do assunto também. Posso saber a razão da sua pergunta?
ExcluirAbraço, Oscar