Desenho e canteiro - função de arquiteto
Ainda mergulhada na leitura dos Pilares da Terra, vejo em minha cabeça um tempo em que o mestre construtor, ancestral direto dos arquitetos, era projetista e construtor. Ainda não se haviam separado esses dois afazeres e me lembrei é claro de Sergio Ferro e seu livro O CANTEIRO E O DESENHO, uma espécie de símbolo de uma geração que lutava por liberdade em um pais onde ela não existia. E essa efervescência era sentida nas faculdades de arquitetura, onde muito se discutia a função social da moradia e da cidade.
Em uma entrevista para a revista AU, Sérgio Ferro assim definiu a ARTE : " Arte é a manifestação da alegria no trabalho, apesar da contradição nas palavras, pois trabalho vem de 'tripalium', um instrumento de tortura. E essa alegria não é possível sem liberdade. Então, arte é a manifestação do trabalho livre, no qual o autor tem diante de si o material específico de seu ofício e define, sem influência estrangeira, o que quer fazer."
E sobre Arquitetura ele disse que "atualmente é raríssima a obra de arquitetura que possa ser chamada de obra de arte. Simplesmente porque aquele que projeta e pensa não é o mesmo que manipula, não é aquele que faz, que transforma a matéria. Arte é uma idéia concreta, efetivada no material. É o momento de encontro entre o humano e o não-humano. E no material já existe muito de humano. E dessa união nasce a alegria... O eu criador varia de arte para arte. O eu da pintura e da escultura é unitário, o eu da arquitetura é coletivo, social, composto do arquiteto e dos produtores. Por isso, talvez a arquitetura devesse ser a maior e a melhor das artes. Porque não apareceria mais o ego isolado de cada um de nós, de cada arquiteto, mas sim a subjetividade humana compartilhada. Uma coisa é criar no escritório e depois mandar fazer. Outra é escutar as possibilidades advindas de cada equipe de trabalho e promover a colaboração entre parceiros. O projeto pode e deve estar aberto no momento de sua concepção para uma transformação, uma modificação, pois nenhuma previsão consegue antever todas as possibilidades que surgem no momento da realização. Daí a necessidade de colaboradores que participem da criação do projeto global e se sintam realmente responsáveis pelo que estão fazendo. Cada equipe de especialistas atuando com liberdade, responsabilidade e cooperação.
Para nós, arquitetos, o que interessa não é a estética, teoria da percepção do objeto, mas a poética, que é o fazer, o produzir. Então, quando um arquiteto chega na prancheta e começa a querer fazer algo com equilíbrio dinâmico entre as massas e etc., está se comportando como esteta, aquele que vê, e não como poeta, aquele que faz. Os ensinos no ateliê são estéticos e não poéticos. A produção é abafada, secreta e triturada."
Mais sobre Sergio Ferro nessa entrevista no Vitruvius
Há pouco tempo coloquei aqui uma postagem sobre um arquiteto americano, um dos mais influentes de sua geração alertando para a necessidade resgate do projetar e fazer. Talvez ele e Sergio Ferro não compartilhem da mesma ideologia, mas ambos apontam para uma lacuna que vem tornando os arquitetos um acessório dentro de uma complexa indústria que visa acima de tudo o lucro. E nada tenho contra lucrar. Mas tudo tenho contra esse vir em detrimento do bem estar, da criatividade, da alegria. E se criam conceitos e nomes para vender, mais que para mudar atitudes. Se o verde é moda, vende-se o verde em forma de certidões que nada mais são do que carimbos que atestam momentos. Serão realmente eficazes ?
Talvez eu esteja sendo romântica, inspirada numa nostálgica volta ao passado de estudante, mas a verdade é que cada vez mais as decisões sobre grandes empreendimentos passam longe da decisão do Arquiteto.
Pintura de Sérgio Ferro |
Em uma entrevista para a revista AU, Sérgio Ferro assim definiu a ARTE : " Arte é a manifestação da alegria no trabalho, apesar da contradição nas palavras, pois trabalho vem de 'tripalium', um instrumento de tortura. E essa alegria não é possível sem liberdade. Então, arte é a manifestação do trabalho livre, no qual o autor tem diante de si o material específico de seu ofício e define, sem influência estrangeira, o que quer fazer."
E sobre Arquitetura ele disse que "atualmente é raríssima a obra de arquitetura que possa ser chamada de obra de arte. Simplesmente porque aquele que projeta e pensa não é o mesmo que manipula, não é aquele que faz, que transforma a matéria. Arte é uma idéia concreta, efetivada no material. É o momento de encontro entre o humano e o não-humano. E no material já existe muito de humano. E dessa união nasce a alegria... O eu criador varia de arte para arte. O eu da pintura e da escultura é unitário, o eu da arquitetura é coletivo, social, composto do arquiteto e dos produtores. Por isso, talvez a arquitetura devesse ser a maior e a melhor das artes. Porque não apareceria mais o ego isolado de cada um de nós, de cada arquiteto, mas sim a subjetividade humana compartilhada. Uma coisa é criar no escritório e depois mandar fazer. Outra é escutar as possibilidades advindas de cada equipe de trabalho e promover a colaboração entre parceiros. O projeto pode e deve estar aberto no momento de sua concepção para uma transformação, uma modificação, pois nenhuma previsão consegue antever todas as possibilidades que surgem no momento da realização. Daí a necessidade de colaboradores que participem da criação do projeto global e se sintam realmente responsáveis pelo que estão fazendo. Cada equipe de especialistas atuando com liberdade, responsabilidade e cooperação.
Para nós, arquitetos, o que interessa não é a estética, teoria da percepção do objeto, mas a poética, que é o fazer, o produzir. Então, quando um arquiteto chega na prancheta e começa a querer fazer algo com equilíbrio dinâmico entre as massas e etc., está se comportando como esteta, aquele que vê, e não como poeta, aquele que faz. Os ensinos no ateliê são estéticos e não poéticos. A produção é abafada, secreta e triturada."
Mais sobre Sergio Ferro nessa entrevista no Vitruvius
Há pouco tempo coloquei aqui uma postagem sobre um arquiteto americano, um dos mais influentes de sua geração alertando para a necessidade resgate do projetar e fazer. Talvez ele e Sergio Ferro não compartilhem da mesma ideologia, mas ambos apontam para uma lacuna que vem tornando os arquitetos um acessório dentro de uma complexa indústria que visa acima de tudo o lucro. E nada tenho contra lucrar. Mas tudo tenho contra esse vir em detrimento do bem estar, da criatividade, da alegria. E se criam conceitos e nomes para vender, mais que para mudar atitudes. Se o verde é moda, vende-se o verde em forma de certidões que nada mais são do que carimbos que atestam momentos. Serão realmente eficazes ?
Talvez eu esteja sendo romântica, inspirada numa nostálgica volta ao passado de estudante, mas a verdade é que cada vez mais as decisões sobre grandes empreendimentos passam longe da decisão do Arquiteto.
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