Cidade amiga da pessoa idosa

Imagem gerada em IA
Uma cidade amiga da pessoa idosa é aquela que promove o envelhecimento ativo, otimizando oportunidades de saúde, participação e segurança para aumentar a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem. Em termos práticos, essa cidade adapta suas estruturas e serviços para que sejam inclusivos e acessíveis a pessoas mais velhas com diferentes necessidades e capacidades. A ideia de cidade amiga da pessoa idosa está alinhada com o enquadramento do envelhecimento ativo da OMS.

Os espaços e políticas dessa cidade são pensados para proporcionar bem-estar e autonomia, abrangendo diversas áreas da vida urbana. O Guia da OMS lista oito quesitos que certificam uma cidade como amiga da pessoa idosa:
  • moradia,
  • transporte,
  • espaços abertos e construídos,
  • apoio comunitário e serviços de saúde,
  • comunicação e informação,
  • respeito e inclusão social,
  • participação social,
  • e participação cívica e emprego.
Esses tópicos são fortemente interligados e se reforçam mutuamente. Uma cidade amiga da pessoa idosa só pode ser resultado de uma abordagem integrada.

Espaços exteriores e edifícios:
  • Inclui a adaptação do ambiente residencial e de espaços públicos.
  • Busca diminuir as barreiras arquitetônicas e urbanas na locomoção.
  • A acessibilidade urbana é destacada, sendo fundamental para garantir a circulação segura e o usufruto dos espaços públicos.
  • A sinalização clara e a acessibilidade universal são ferramentas relevantes para a autonomia.
  • Rotas acessíveis, contínuas, desobstruídas e sinalizadas, garantem o direito de acessar, circular, observar e interpretar o espaço.
  • O planejamento urbano focado na caminhabilidade (walkability) melhora atributos do espaço público que incentivam o deslocamento a pé, servindo à autonomia dos idosos e garantindo o direito à cidade.
  • É importante considerar aspectos físicos, informativos e psicossociais para a caminhabilidade.
  • Calçadas e faixas de travessia para pedestres em rotas acessíveis são primordiais para a qualidade da rota e nível de acessibilidade, impactando o cotidiano ao permitir circulação e acesso mais amplos à cidade.
  • Condições dos passeios (livres de obstáculos, superfície lisa, fácil acesso) e a existência de banheiros públicos próximos a eles são relevantes.
  • Áreas ao ar livre onde as pessoas possam sentar são vistas de forma positiva.
  • Ambiências urbanas necessitam ser estimulantes e enriquecidas para vivências produtivas e significativas, oferecendo condição de caminhabilidade, usufruto de equipamentos de lazer e encontros positivos com a vizinhança. Isso pode ser alcançado com vegetação, revestimentos adequados, iluminação pública, mobiliário urbano e sinalização convidativa.
  • A percepção de segurança e liberdade é fundamental para a caminhabilidade. Mais pessoas na rua podem inibir atos criminosos.
  • Os ambientes devem ser preparados para usuários com capacidades distintas.

Transporte:

  • Devem existir programas de adaptação para segurança nos transportes coletivos.
  • É desejável um transporte eficiente (ônibus, metrô, trem).
  • A cidade deve ser servida por diversos pontos de transporte planejados estrategicamente para atender às demandas da pessoa idosa.
  • Informações sobre horários devem ser previamente informadas e a comunicação ampla e cuidadosa.
  • Cuidados com iluminação, sinalização e recursos visuais/sonoros nas paradas de ônibus são importantes.
  • A disponibilidade de transporte adaptado ou vaga de estacionamento prioritário é relevante. Lugares de estacionamento prioritário perto de edifícios são considerados elementos importantes.
  • A oferta de diferentes modalidades de transporte (bicicleta, patins, patinetes, cadeiras de rodas motorizadas) pode estimular o idoso a diversificar seus hábitos.
  • A passagem gratuita para idosos é mencionada como uma característica positiva.

Moradia:

  • A adaptação domiciliar é fundamental.
  • O ambiente de moradia é particularmente importante pela acessibilidade, segurança, e pela segurança emocional e psicológica que oferece. Um ambiente satisfatório traz benefícios para a saúde.
  • É importante que os idosos tenham a possibilidade de escolher o lugar onde queiram viver e envelhecer (aging in place). Envelhecer em casa é considerado uma opção melhor que a institucionalização. A residência pode ser adequada se planejada para as mudanças do corpo ao longo do tempo.
  • As cartilhas públicas para idosos devem abordar mais detalhadamente questões arquitetônicas no ambiente de morar, com orientações de medidas preventivas. O Estatuto da Pessoa Idosa traz a questão da moradia digna, mas o conteúdo não aparece frequentemente ou detalhado nas cartilhas analisadas.
  • Em instituições de acolhimento (casas-lares), a padronização pode ser aplicada se as especificidades dos idosos forem consideradas. Espaços padronizados com apelo hospitalar reforçam uma atmosfera fria e impessoal.
  • A afetividade materializada na atmosfera particular do idoso constitui a base para o bem-estar nesses espaços. Intervenções propostas pelos próprios idosos resgatam suas memórias afetivas. A padronização não deve se sobrepor ao apego e à afetividade; deve permitir que o idoso personalize seu espaço íntimo.
  • Arquitetura e design atuam na expressão dos sentidos e nos atributos objetivos e subjetivos de cada moradia, de acordo com a história de vida e memórias.
  • Programas de adaptação residencial para idosos em situação de vulnerabilidade, oferecendo vistorias e adaptações, são essenciais para promover segurança e autonomia.
  • Devem existir diferentes possibilidades de moradia para a terceira idade, com exemplos como Cidade Madura, Vila dos Idosos, República de Idosos, Cohousing Sênior, entre outros.
Participação social:
  • A cidade deve incentivar o fator social do idoso, como sua participação comunitária, atividades físicas e de lazer.
  • Promover a participação de idosos na comunidade incentiva o ato de caminhar pela vizinhança. A formação de novos laços pode ajudar a retomar uma vida mais ativa.
  • Ser parte da comunidade local contribui para uma cidade amiga.
Respeito e inclusão social:

  • Uma cidade amiga do idoso reconhece o direito à vida, à dignidade e à longevidade.
  • Deve enfrentar o contexto histórico de desigualdade estrutural que marca as cidades brasileiras e que gera condições distintas para envelhecer.
  • As políticas públicas podem ser a principal forma de muitos idosos brasileiros terem acesso à cidade e se "cidadanizarem". O desenho das políticas públicas influencia o uso cotidiano da cidade pelos mais velhos.
  • As mulheres mais velhas devem ser ouvidas diretamente em seus territórios, pois enfrentam condições de vida mais precárias devido a desigualdades estruturais e são gestoras de serviços urbanos e sistemas de apoio familiar/comunitário. Elas devem ser vistas como um grupo cidadão com demandas específicas.
  • O respeito e a consideração pelo indivíduo devem ser valores fundamentais em todos os espaços públicos e privados.
  • Membros da comunidade devem se sentir integrados e em segurança. Contatos personalizados com idosos em risco de isolamento social e a redução de obstáculos econômicos, linguísticos e culturais são importantes.
Participação cívica e emprego:
  • Inclui a possibilidade de emprego remunerado, ocupação ou trabalho voluntário para manutenção de estado ativo e preservação das conexões sociais.
  • A cidade deve incentivar o protagonismo do idoso na formulação das políticas a ele destinadas.
Comunicação e informação:
  • Informações variadas e relevantes devem ser rapidamente acessíveis para pessoas idosas com diversas capacidades.
  • A forma de comunicar que os serviços estão se adaptando às necessidades específicas do idoso garante maior segurança e autonomia.
  • A legibilidade da cidade é crucial para que seja inclusiva.
Apoio comunitário e serviços de saúde:
  • Disponibilidade de serviços de saúde perto do local onde vivem e de fácil acesso é essencial.
  • Inclui serviços de cuidados domiciliares.
  • Apoio voluntário deve ser incentivado. O voluntariado intergeracional é uma ideia que se repete.

O desafio é transformar o conhecimento técnico em melhoria real das condições de vida, especialmente em territórios urbanos resultantes da autoconstrução e em um contexto de desigualdade estrutural. É urgente e estratégico que as cidades busquem ações efetivas para ampliar o assessoramento técnico às populações mais empobrecidas, criando canais de financiamento alternativos e assegurando a qualidade do espaço construído como prevenção e garantia de autonomia e independência. É preciso desenvolver critérios mais cuidadosos no tratamento de instrumentos públicos de qualidade e que as ações de governança sejam amparadas por orientações de especialistas.

Em suma, uma cidade amiga do idoso, com espaços que proporcionam bem-estar e autonomia, é aquela que, além de adaptar seu ambiente físico para garantir acessibilidade e segurança, integra políticas de transporte, habitação, saúde e assistência social, promovendo a participação social e cívica, valorizando o respeito e a inclusão de todas as pessoas idosas em sua diversidade e complexidade, e ouvindo ativamente suas demandas.

Leia também: Metamorfose da Vida - cidades inclusivas, moradias compartilhadas e as emoções na maturidadeComo Agilizar Cidades Inclusivas: Um Olhar pelos 6 Chapéus do Pensamento

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

10 motivos para NÃO fazer arquitetura

Ideias de enfeites de Natal em Macramê

10 ideias de almofadas e afins para gateiros