Arquitetura e Saúde em sintonia: Desenhando espaços para a independência da pessoa idosa
As principais ações conjuntas incluem:
Adaptação e Qualificação do Ambiente Domiciliar:Os profissionais de saúde, em especial na atenção primária, estão inseridos no cotidiano do idoso e são também necessários para identificar suas necessidades específicas e os riscos ambientais presentes na moradia. A equipe de saúde deve identificar as possíveis causas e influências ambientais para a ocorrência de quedas, por exemplo.
Profissionais de arquitetura, urbanismo e design possuem o conhecimento técnico para propor e executar as adaptações necessárias, removendo barreiras arquitetônicas e urbanísticas.
Essa colaboração se traduz em modificações no ambiente residencial, como a organização do espaço, controle de medicações, cuidados com a locomoção e o uso correto de auxiliadores de marcha. Inclui a instalação de barras de apoio, pisos antiderrapantes, alarmes visuais e sonoros, rampas, ampliação de portas, ou adição de banheiros no pavimento térreo.
O objetivo é criar um ambiente que ofereça segurança, funcionalidade e que possa compensar os declínios da saúde e da capacidade funcional, permitindo que o idoso continue vivendo em sua própria casa com mais segurança e autonomia.
É crucial que haja assessoramento técnico para a população, especialmente em moradias autoconstruídas. As cartilhas públicas deveriam abordar mais detalhadamente as questões arquitetônicas no ambiente de morar.
A prevenção de quedas ilustra vividamente o poder da colaboração interdisciplinar. Enquanto profissionais de saúde, como geriatras e fisioterapeutas, identificam idosos com risco aumentado através da avaliação de fatores intrínsecos como déficits sensoriais e alterações de equilíbrio, arquitetos e designers entram em cena para traduzir essas informações clínicas em soluções práticas para o ambiente. Por exemplo, a identificação de um idoso com marcha instável pode levar à sugestão de instalação de corrimãos ergonômicos e iluminação indireta por um designer de interiores, ou à eliminação de tapetes soltos e soleiras elevadas por um arquiteto, reduzindo significativamente o risco de quedas no domicílio.
A colaboração se estende ao desenvolvimento de ferramentas de avaliação de risco, onde o conhecimento técnico sobre o espaço físico dos profissionais de arquitetura, design e ergonomia pode complementar a expertise clínica dos profissionais de saúde.
Intervenções no ambiente construído são menos comuns do que ajustes de comportamento, mas há grande oportunidade para que a arquitetura e o design ajudem os idosos a realizar atividades diárias com mais segurança e autonomia.
Melhoria da Acessibilidade Urbana e Uso dos Espaços Públicos:
Embora a acessibilidade urbana seja frequentemente tratada por urbanistas e engenheiros, a área da saúde e assistência social identifica as barreiras que impedem a participação e a locomoção dos idosos na cidade.
A ação conjunta implica no planejamento urbano que incorpore as necessidades dos idosos, como a eliminação de barreiras arquitetônicas e urbanísticas. Isso inclui a adequação de calçadas, travessias de pedestres, sinalização clara (visual, tátil, sonora) e a instalação de mobiliário urbano como bancos em locais adequados para descanso.
A capacitação de profissionais de saúde para entender as barreiras do ambiente construído e orientar os idosos sobre como lidar com elas ou identificar a necessidade de adaptações também faz parte dessa colaboração.
Em instituições de longa permanência (ILPIs) ou casas-lares, a arquitetura e o design devem ir além da padronização, considerando a subjetividade e as memórias afetivas dos moradores.
A colaboração entre arquitetos e profissionais de saúde/cuidado é fundamental para criar ambientes que atendam às necessidades físicas, psicológicas e sociais dos idosos, permitindo personalização e promovendo o bem-estar. Isso inclui a consideração de cores, iluminação (natural e artificial), conforto ambiental, escala humana e o contato com a natureza.
Profissionais de arquitetura, urbanismo, design e saúde/assistência social devem colaborar na formulação de políticas públicas que garantam moradia digna, acessibilidade universal e a criação de cidades amigas do idoso.
É importante reconhecer a lacuna de legislação técnica específica para a arquitetura e o desenho urbano que atenda às especificidades do público idoso no Brasil, sendo a legislação de acessibilidade o parâmetro mais próximo, mas que não esgota as necessidades.
A capacitação de gestores municipais para a gestão da longevidade nas cidades e o desenvolvimento de instrumentos públicos de qualidade são áreas que exigem a orientação de especialistas de ambas as áreas. É necessário ouvir diretamente as mulheres mais velhas, que enfrentam desigualdades estruturais e são gestoras de serviços urbanos e sistemas de apoio, como um grupo cidadão com demandas específicas.
Em suma, a manutenção da autonomia da pessoa idosa através do ambiente construído e dos serviços passa necessariamente pela ação conjunta e integrada dos profissionais de arquitetura/urbanismo e saúde/cuidado. A arquitetura oferece as soluções espaciais e de design, enquanto a área da saúde identifica as necessidades funcionais, clínicas e sociais do indivíduo. Essa sinergia é fundamental para transformar espaços (residenciais, institucionais, públicos) em ambientes seguros, acessíveis, confortáveis e estimulantes, permitindo que os idosos vivam com dignidade e autonomia.
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