Arquitetura social, fortalecer consciências e construir comunidades
"Criar cultura é o primeiro passo para se ter uma vida politica saudável" Itziar Gonzalez arquiteta
Todo dia pela manhã começo escutando e lendo algumas coisas que possam me acrescentar. Faço uma triagem no meio daquela maluquice de informações que as redes sociais sugerem como interessantes. Foi como achei este vídeo de Itziar Gonzalez: As cidades como geradoras de saúde física e mental. Ela falava da importância de viver em comunidades realmente representativas, principalmente na velhice. Itziar González Virós é uma arquiteta, urbanista e ativista espanhola com uma atuação política instigante, fundadora do Instituto Cartográfico da ReVuelta. Em determinado trecho do vídeo ela fala de sua atuação em Arquitetura Social.
A arquitetura social vai além da construção de edifícios e do traçado de ruas. Ela é a arte de fortalecer consciências e construir comunidades por meio dos espaços que compartilhamos e da ação das comunidades em prol de suas necessidades. As cidades, quando pensadas como pontos de encontros, tornam-se mais do que meros aglomerados urbanos: transformam-se em cenários de trocas, pertencimento e integração entre gerações e classes sociais.
Viver em uma capital como Porto Alegre revela a importância dos espaços de convivência. Seja nas praças movimentadas do Centro Histórico, nas orlas revitalizadas ou nos bairros que mantêm sua identidade cultural, a cidade pulsa na conexão entre seus habitantes. No entanto, essa riqueza só se sustenta quando há uma visão coletiva que valoriza esses espaços e os preserva como patrimônios de encontro e memória. Nos últimos anos, observa-se um crescente descaso com o meio ambiente na cidade, em contraponto à valorização da arborização que marcou décadas passadas. As árvores, antes protegidas como elementos fundamentais da paisagem urbana, estão sendo removidas, muitas vezes sem a devida compensação, e/ou sofrendo podas, nem sempre feitas com critérios técnicos. Isso acaba comprometendo a climatização natural e o bem-estar da população. Esse fenômeno impacta diretamente as pessoas idosas, que são mais vulneráveis às ilhas de calor e à poluição do ar. Preservar e ampliar a arborização urbana não é apenas uma questão estética, mas uma necessidade urgente para garantir uma cidade mais saudável e inclusiva.
A experiência pessoal de viver em Brasília, com suas superquadras, mostra um modelo urbano que buscou ressignificar a interação entre os moradores. Ali, as áreas comuns foram projetadas para incentivar a proximidade entre vizinhos, permitindo que a cidade se tornasse um espaço de convivência e não apenas um conjunto de residências isoladas. Essa lógica de urbanismo social nos ensina que projetar para as pessoas é tão essencial quanto erguer construções monumentais.
Recentemente tive a oportunidade de visitar Igrejinha, uma cidade do Vale do Paranhana no Rio Grande do Sul. Junto com o companheiro do Coletivo Metamorfose da Vida, Adeli Sell, fomos conversar com os poderes públicos da cidade sobre a arte do envelhecimento. Em 2022, o município foi considerada a 21ª melhor cidade do Brasil para se viver, de acordo com o ranking da Revista IstoÉ. A cidade também venceu a categoria "Educação" em cidades de 30 a 100 mil habitantes. Foi impossível não notar como a qualidade de vida está diretamente relacionada à forma como os espaços urbanos são organizados. Com ruas arborizadas, praças bem cuidadas e uma ocupação humana equilibrada, Igrejinha evidencia o impacto positivo de um urbanismo que tem procurado colocar o bem-estar coletivo como prioridade. Essa realidade deveria inspirar outras cidades a resgatarem suas potencialidades e aprimorarem seus espaços de convivência. Mas também pude notar que a cidade vem expandindo em construções. E isso, muitas vezes, pode levar ao detrimento de espaços de memórias importantes a serem preservados.
A preservação dos edifícios históricos e espaços de memória deve ser um compromisso contínuo. O patrimônio arquitetônico não é apenas uma testemunha do passado, mas um ativo valioso para o turismo e para a identidade local. A inundação da biblioteca pública de Igrejinha nas enchentes de maio de 2024 reforça a urgência de reavaliarmos a ocupação dos espaços urbanos. Que destino terá a reconstrução desse equipamento cultural tão essencial? Uma alternativa seria alocá-lo em um prédio histórico no centro da cidade, ressignificando um espaço existente e promovendo um polo de cultura, conhecimento e interação social.
Para isso, é essencial que a gestão pública, a comunidade empresarial e a sociedade civil se unam em um esforço conjunto para recuperar e fortalecer esses espaços. A reconstrução da biblioteca em um prédio histórico poderia simbolizar mais do que a recuperação de um acervo perdido: seria a afirmação de um compromisso coletivo com a educação, a cultura e o direito à cidade.
A arquitetura social não se faz apenas com concreto e tijolos, mas com o desejo de construir uma cidade mais humana, inclusiva e vibrante. Somente através da união e do envolvimento da comunidade é possível transformar os espaços urbanos em territórios vivos, onde o passado é respeitado, o presente é fortalecido e o futuro é construído com consciência coletiva.
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